Aproximando a semana do carnaval, nada como aproveitar a data e colocar os alunos para escrever...
Relembro aqui uma atividade do GESTAR (Gestão em Aprendizagem Escolar), Curso que fiz pela UNB e repassado por mim aos Professores da Prefeitura de Montes Claros.
Na oportunidade, friso que é bastante interessante não entregar o texto completo aos alunos. Vá somente até essa frase: "– Quero que você vá lá e mande eles pararem com esse barulho."
Deixe que eles completem a história. Que criem à vontade.
O que terá acontecido? O marido saiu para resolver o problema? Não saiu??
Peça que escrevam o que sentirem vontade em relação ao texto. Sempre lembrando que deverá ter um conteúdo que possa ser lido em sala de aula.
Após, a turma lerá os vários finais que foram criados e somente depois é que o verdadeiro final deverá ser lido pelo(o) professor(a) e verificado quem mais se aproximou do final da história criada pelo autor.
Sairão textos interessantíssimos!!!!
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"Nesta parte da oficina, vamos desenvolver uma crônica a partir de um trecho do texto de Moacyr Scliar, publicado em O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2002. p. 155"
Espírito Carnavalesco
“Ensaios da escola de samba Mocidade Alegre atrapalham sono de moradores da região.”
Cansado, ele dormia a sono solto, quando foi bruscamente despertado pela esposa, que o sacudia violentamente.
– Que aconteceu? – resmungou ele, ainda de olhos fechados.
– Não posso dormir. – queixou-se ela.
– Não pode dormir? E por quê?
– Por causa do barulho – ela, irritada: - Será possível que você não ouça?
Ele prestou atenção. De fato, havia barulho. O barulho de uma escola de samba ensaiando para o carnaval: pandeiros, tamborins… Não escutara antes por causa do sono pesado. O que não era o caso da mulher. Ela exigia providências.
– Mas o que quer você que eu faça? perguntou e, agora, também irritado.
– Quero que você vá lá e mande eles pararem com esse barulho.
(…)
– De jeito nenhum – disse ele. – Não sou fiscal, não sou policial. Eu não vou lá.
Virou-se para o lado, com o propósito de conciliar de novo o sono. O que a mulher não permitiria: logo estava a sacudi-lo de novo.
Ele acendeu a luz, sentou na cama:
– Escute, mulher. É carnaval, esta gente sempre ensaia no carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta história.
Ela começou a chorar.
– Você não me ama – dizia, entre soluços: – Se você me amasse, iria lá e acabaria com a farra.
Com um suspiro, ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem uma palavra.
Ela ficou à espera, imaginando que em dez ou quinze minutos a batucada cessaria.
Mas não cessava. Pior: o marido não voltava. Passou-se meia hora, passou-se uma hora: nada. Nem sinal dele.
E aí ela ficou nervosa. Será que tinha acontecido alguma coisa ao pobre homem? Será que – por causa dela – ele tinha se metido numa briga? Teria sido assassinado? Mas neste caso, por que continuava a batucada? Ou seria aquela gente tão insensível que continuava a orgia carnavalesca mesmo depois de ter matado um homem? Não aguentando mais, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba, ali perto.
Não, o marido não tinha sido agredido e muito menos assassinado. Continuava vivo, e bem vivo: no meio de uma roda, ele sambava, animadíssimo.
Ela deu meia-volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.
Biografia
Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre/RS - 23/03/1937; Médico e escritor. Ganhador de vários prêmios como o Érico Veríssimo (1976) e o Jabuti (1988, 1993 e 2000), colaborou com rádios, TVs e jornais como o Zero Hora, de Porto Alegre, e a Folha de São Paulo. Faleceu: 27/02/2011 em Porto Alegre - RS.
Espírito Carnavalesco
“Ensaios da escola de samba Mocidade Alegre atrapalham sono de moradores da região.”
Cansado, ele dormia a sono solto, quando foi bruscamente despertado pela esposa, que o sacudia violentamente.
– Que aconteceu? – resmungou ele, ainda de olhos fechados.
– Não posso dormir. – queixou-se ela.
– Não pode dormir? E por quê?
– Por causa do barulho – ela, irritada: - Será possível que você não ouça?
Ele prestou atenção. De fato, havia barulho. O barulho de uma escola de samba ensaiando para o carnaval: pandeiros, tamborins… Não escutara antes por causa do sono pesado. O que não era o caso da mulher. Ela exigia providências.
– Mas o que quer você que eu faça? perguntou e, agora, também irritado.
– Quero que você vá lá e mande eles pararem com esse barulho.
(…)
– De jeito nenhum – disse ele. – Não sou fiscal, não sou policial. Eu não vou lá.
Virou-se para o lado, com o propósito de conciliar de novo o sono. O que a mulher não permitiria: logo estava a sacudi-lo de novo.
Ele acendeu a luz, sentou na cama:
– Escute, mulher. É carnaval, esta gente sempre ensaia no carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta história.
Ela começou a chorar.
– Você não me ama – dizia, entre soluços: – Se você me amasse, iria lá e acabaria com a farra.
Com um suspiro, ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem uma palavra.
Ela ficou à espera, imaginando que em dez ou quinze minutos a batucada cessaria.
Mas não cessava. Pior: o marido não voltava. Passou-se meia hora, passou-se uma hora: nada. Nem sinal dele.
E aí ela ficou nervosa. Será que tinha acontecido alguma coisa ao pobre homem? Será que – por causa dela – ele tinha se metido numa briga? Teria sido assassinado? Mas neste caso, por que continuava a batucada? Ou seria aquela gente tão insensível que continuava a orgia carnavalesca mesmo depois de ter matado um homem? Não aguentando mais, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba, ali perto.
Não, o marido não tinha sido agredido e muito menos assassinado. Continuava vivo, e bem vivo: no meio de uma roda, ele sambava, animadíssimo.
Ela deu meia-volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.
Biografia
Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre/RS - 23/03/1937; Médico e escritor. Ganhador de vários prêmios como o Érico Veríssimo (1976) e o Jabuti (1988, 1993 e 2000), colaborou com rádios, TVs e jornais como o Zero Hora, de Porto Alegre, e a Folha de São Paulo. Faleceu: 27/02/2011 em Porto Alegre - RS.