"Pesquisa mostra que a taxa de analfabetismo no Brasil parou de cair. Conheça cinco clássicos da literatura que vão despertar seu interesse pela leitura
DIÁRIO DA MANHÃ
OSMAR RÉGIS
“Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los, mas, em geral, se confunde a compra de livros com a apropriação de seu conteúdo. Esperar que alguém tenha retido tudo o que já leu é como esperar que carregue consigo tudo o que já comeu.”
O trecho acima foi extraído da obra Sobre livros e leitura, de Arthur Schopenhauer. O autor, durante sua época, foi conhecido por falar verdades inconvenientes e exigir que o hábito da leitura se estendesse à todos, e não ficasse apenas restrito ao círculo dos eruditos.
Quase duzentos anos depois de Schopenhauer, no Brasil, muita coisa mudou. E a literatura, digamos, está um pouco mais acessível. Mas, mesmo com essa facilidade de acesso, o desinteresse pelas letras continua crescente em terras tupiniquins. Segundo dados publicados recentemente pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), a compra de livros caiu 7,36% nos últimos anos.
Tais dados de mercado refletem indiretamente nas taxas de analfabetismo no Brasil, que simplesmente pararam de cair. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada em 2012, o índice de pessoas analfabetas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 8,7%, o que correspondeu ao contingente de 13,2 milhões de analfabetos. Em 2011, essa taxa foi de 8,6% e o contingente foi de 12,9 milhões de pessoas.
No Centro-Oeste, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade passou de 6,3% em 2011, para 6,7% em 2012, o que também não foi estatisticamente significativo. No Brasil, a taxa foi estimada em 8,7%, frente a 8,6%, em 2011, e 11,5% em 2004. Em 2012, havia no País 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais de idade.
Quem lê viaja
Pensando nesse desinteresse pela literatura, o DMRevista elencou abaixo alguns livros que podem despertar o seu interesse por uma das atividades mais prazerosas que existe. A lista foi elaborada com ajuda de alguns leitores e tenta agradar à todos os gostos, desde ficção até romance, passando por mistério e grandes tragédias gregas.
Édipo Rei
Escrito por Sófocles, um clássico da literatura ocidental, Édipo Rei é considerada uma das mais perfeitas tragédias da Grécia Antiga. Édipo é filho de Laios, rei de Tebas que foi amaldiçoado de forma que seu primeiro filho iria se tornar seu assassino e desposaria a própria mãe. Tentando escapar da ira dos deuses, Laios manda matar Édipo logo de seu nascimento. No entanto, a vontade do destino foi mais forte e Édipo sobreviveu, salvo por um pastor que o entregou a Políbio, rei de Corinto.
Já adulto, Édipo descobre sobre a maldição que lhe foi atribuída e para que ela não fosse cumprida, foge de Corinto para Tebas, sem saber que lá sim é que seus pais verdadeiros o esperavam.
No meio da viagem, encontra um bando de mercadores e seu amo (Laios). Sem saber que seu destino estava já se concretizando, mata a todos. Assim que chega a Tebas, Édipo livra a cidade da horrenda esfinge e de seus enigmas, recebendo a recompensa: é eleito rei e premiado com a mão da recém-viúva rainha Jocasta (viúva de Laios).
Anos se passam e Édipo reina como um verdadeiro soberano e tem vários filhos com Jocasta, mas a cidade passa por momentos difíceis e a população pede ajuda ao rei.
Após uma consulta ao oráculo de Delfos, que responde pelo deus Apolo, os tebanos são alertados sobre alguém que provoca a ira dos deuses: o assassino de Laios, que ainda vive na cidade. Édipo então decide livrar seu reino desse mal e descobrir quem é o assassino, desferindo uma tremenda maldição.
Dom Quixote
A história de Miguel de Cervantes conta que na província de Mancha, Espanha, vive um ingênuo fidalgo espanhol, chamado dom Alonso Quixano, que de tanto ler histórias de cavaleiros medievais confunde fantasia e realidade, e decide se tornar, ele também, um cavaleiro andante e sai pelo mundo acreditando em seus delírios. Trata-se de um ingênuo senhor cinquentão, que vivia na zona rural. Tinha nome nobre, porém, poucas posses.
Vivia em um velho casarão, com uma jovem sobrinha, uma governanta e um rapaz que cuidava da fazenda. A casa, além de uma extensa biblioteca, sendo os livros a maioria de cavalaria, era toda ornamentada com escudos e lanças antigos, o que talvez tenha sido elementos fundamentais que levaram o personagem principal a enfrentar sérios problemas. Para tanto, recorre a uma armadura enferrujada que fora de seu bisavô, confecciona uma viseira de papelão e se autointitula Dom Quixote de La Mancha.
A princípio, sai sozinho de casa. Seu plano era andar pelo mundo, desfazendo injustiças, salvando donzelas e combatendo gigantes e dragões. Como todos os cavaleiros tinham uma amada, ele precisa de uma dama a quem honrar para dedicar suas aventuras heroicas. Como não tinha, inventou uma. Lembrou-se que, anos atrás, estivera interessado em uma camponesa, guardadora de porcos, chamada Aldonça, que vivia na aldeia de Toboso. Era feia, desajeitada e analfabeta, mas o cavaleiro mudou seu nome para Dulcineia del Toboso e passou a fantasiar que ela era mais bela que todas as damas e princesas dos livros. Depois de tomar essas providências, monta em seu decrépito pangaré, Rocinante e foge de casa em busca de aventuras.
Fausto
Goethe escreveu esta obra em 1808. Trata da história de Fausto, o homem que faz pacto com o diabo. Ele começa com o personagem principal lamentando-se sobre o vazio que carrega dentro de si, apesar do vasto conhecimento que ele tem. Por isso, Fausto procura o lado espiritual, como os mistérios da vida e magia.
Ele vive solitário e divide seu tempo entre o aluno Wagner e o cachorro. Um dia ele abre a Bíblia e reclama do versículo que diz: “No começo era o verbo”. Neste momento, ao reclamar, o seu cachorro transforma-se em um diabo. O demônio de aparência humana propõe um pacto e garante proporcionar-lhe todos os prazeres e desejos.
Fausto aceita o pacto. Depois disso, ele conhece Margarida, por quem se apaixona. Então, ele pede ao diabo para tê-la, mas o demônio avisa que não pode, pois a moça é virgem, frequenta a missa, mas aconselha-o a dar-lhe bons presentes, dizendo-lhe, que nenhuma mulher resiste.
Fausto segue o conselho e consegue conquistar Margarida, mas um dia as desgraças começam a acontecer.
Os sertões
Os Sertões de Euclides da Cunha usou uma linguagem difícil e rica em termos científicos, para apresentar o Brasil da Guerra de Canudos, um verdadeiro retrato da região no fim do século XIX. Alí, o autor discutiu problemas que transcendem o conflito que ocorreu no interior da Bahia.
A obra narrativa mistura literatura, sociologia, filosofia, história, geografia, geologia, antropologia. Por isso sua preciosidade e grandiosidade. O autor, adepto do determinismo, teoria que afirma ser o homem influenciado (determinado) pelo meio, pela raça e pelo momento histórico, dividiu Os Sertões em três partes: A terra (o meio), O homem (a raça) e A luta (o momento).
A Terra é uma descrição detalhada feita pelo cientista Euclides da Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim.
O Homem é uma descrição feita pelo sociólogo e antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de Canudos. Apresenta seu caráter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados. Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na verdade “armam o palco” e “introduzem os personagens” para a verdadeira história, a Guerra de Canudos, relatada na terceira parte.
A Luta é uma descrição feita pelo jornalista e ser humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento de tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um massacre que começou por um motivo tolo – Antônio Conselheiro reclamando um estoque de madeira não entregue escalou para um conflito, no qual havia paranoia nacional, pois suspeitava-se que os “monarquistas” de Canudos, liderados pelo “famigerado e bárbaro Bom Jesus Conselheiro” tinham apoio externo. No final, foi apenas um massacre violento, no qual estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores – um velho, dois adultos e uma criança.
A metamorfose
Escrita por Franz Kafka, este clássico da literatura conta a história de Gregor Samsa, caixeiro viajante, que leva a vida a trabalhar exaustivamente e sempre a ouvir queixas e recriminações do Sr. Gerente, que cobra sempre melhor desempenho ameaçando-o de dispensa e de cobrar antiga divida que contraiu num momento aflitivo. A família de Gregor, o Senhor e a Senhora Samsa, também não o poupam, exigindo sempre mais e mais responsabilidades no cumprimento de tudo que lhe é solicitado no trabalho. O Senhor Samsa, pai de Gregor, aposentado, gordo e moroso e um tanto adoentado, não podia trabalhar, mas continuava a manter e usar o mesmo uniforme que usava no trabalho como contínuo de um banco.
A Senhora Samsa, mãe de Gregor; sofre de asma e, também, gorda faz os serviços domésticos auxiliada por Ana, uma ajudante. Ela se preocupa em agradar o Sr. Samsa. Grete, a irmã, é ainda uma criança que sonha em ser violinista, porém com os parcos recursos da família isso é só um sonho.
A família vive com muitas dificuldades financeiras. Gregor acaba tomando para si a responsabilidade de proporcionar a todos uma melhor alimentação, moradia decente e confortável. Também ele sonhava em mandar a irmã Grete para uma universidade estudar violino, pois ela tinha talento e só lhe faltava dinheiro pra seguir estudos.
A rotina diária no trabalho e também familiar de Gregor o esmaga, suga todas as energias. Ele passa a viver sem sonhos, sem amigos, sem namorada. Sempre que a porta do quarto fechava, Gregor ficava a recordar: o Gerente, o Chefe, os caixeiros e os aprendizes, o contínuo obtuso, dois ou três amigos e a moça, caixa de uma loja de chapéus, que ele cortejou seriamente e devagar demais.
A vida da família segue nesse marasmo até que um dia a Sra. Samsa percebe que Gregor perdeu a hora de embarcar no trem que o levaria ao trabalho. Ela o chama várias vezes, até que Gregor responde e ela se espanta com a voz. A mãe pensa em chamar um médico, pois o imagina doente. Como Gregor demora a levantar, chega o Chefe que ameaça de levar a queixa ao Gerente, podendo fazer com que ele perca o emprego e começa a censurá-lo na presença dos pais, inclusive ameaçando-o de cobrar antiga dívida.
Como Gregor não consegue abrir a porta do quarto, a família decide chamar o médico e um serralheiro, até que alguém consegue entrar e se deparar com um inseto grande e asqueroso em que ele havia se transformado. Assim começa a via crucis de Gregor, que se transforma num inseto asqueroso, mas continua a pensar e agir como ser humano.
Ao mesmo tempo em que ama, pode odiar a família por se sentir excluído e também por se transformar num peso que todos querem se livrar. Toda a casa se transforma, no início para acolher e o proteger dos olhos de todos, depois para esconder de todo o mal que atingiu e envergonha a família."
FONTE: Texto integral retirado de:
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