29/03/2011

Mineiramente falando...

"Pergunta:


Alguém sabe me explicar, num português claro e direto,
sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão
"no frigir dos ovos"?


Resposta:
Quando comecei, pensava que escrever sobre comida
seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de
um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato
por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como
rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e pra
descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.
E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às
favas.
Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir
comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de
grão em grão que a galinha enche o papo.
Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto,
encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é
necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe.
Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai
com muita sede ao pote.
Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita
abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e
confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.
Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas
mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na
maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate,
enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com
cara de quem comeu e não gostou.
O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é
tudo farin ha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos,
literalmente.
Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio
desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar
sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua
empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma
banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco...
A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir
plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se
junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.
Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir
mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no
frigir dos ov os a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando.
Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.

Entendeu agora o que significa “no frigir dos ovos”?"

Contribuição da colega Ruth Rocha, através de e-mail.

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