04/08/2011

"Eu, as Festas de Agosto e o amor aos Caboclinhos"!


Por Alexsandro Leite*

Festas de Agosto para mim, têm cheiro de saudade, gosto de infância, o sabor dos ventos que agitam as cores das fitas e do aperto nas ruas centrais pra ver os cortejos passarem, o brilho dos fogos na hora do mastro, a delícia das comidas típicas ao som das apresentações regionais e a confirmação da fé nas celebrações católicas.

Desde criança, acompanhei estes significativos símbolos e valores, às vezes sozinho, pois meu pai trabalhava em um barzinho nos fundos da matriz e o menino percorria o centro da cidade encantado pelo batuque dos catopês, louco pra ter um capacete com fitas coloridas, feito nas aulas do Grupo Escolar Dom João Pimenta.

Assim me sentia pertencente à festa que até hoje aguardo o ano inteiro e vivo intensamente cada momento, doido pra não chegar o domingo com o cortejo final e o encerramento da festa.

O menino cresceu e ao iniciar a vida profissional, Dona Jacy, esposa do Saudoso prefeito Dr. Mário Ribeiro me presenteou ao convidar-me a fazer parte dos trabalhos nos centros de convívio, onde conheci o "Terno dos Caboclinhos".

O carinho e simpatia pelo grupo tornaram-se evidentes desde o início das minhas atividades com os mesmos, quando comandados pelo Mestre Poló, que tinha na maioria dos representantes seus filhos, sobrinhos e vizinhos, na maior parte deles, nossos alunos no centro de convívio que atuei por mais de 15 anos na região do grande Renascença, região onde residem até hoje. Lá usavam o espaço para ensaio e nos presenteavam com apresentações exclusivas da trança do cipó e da fita que causavam encanto e empolgação a todos.

Apreciar o trabalho dos caboclinhos é ver a cultura local ser exaltada e sustentada com bravura e resistência de um grupo que muitas vezes sem apoio ou respaldo da sociedade, seguram firmes o propósito daquele que sempre manteve viva a tradição do terno: o Sr. Joaquim Poló.

As músicas marcantes e as vozes infantis entoadas de maneira pontual ecoam durante todo o ano, quando me pego cantarolando “Viva o Divino, meu Santim querido, ele e seus milagres, que tem nos valido...” o que causa um sentimento bom e que se transforma em arrepio e sensação de prazer ao segui-los pelas ruas em agosto durante a preciosa missão de sustentar a cultura local. Mas dá um aperto no peito quando ouvimos “Adeus, adeus. Não chores não. Para o ano eu voltarei. Pra cumprir nova missão!”

Acompanhar o cortejo, colaborar, apoiá-los e defendê-los é o meu desejo e na medida do possível a minha missão e prazer, pois falar dos Caboclinhos é acreditar na cultura popular, é a manutenção de um ideal, é a concretização de um sonho e um trabalho de fé e dedicação perpetuado pelas crianças (maioria dos envolvidos) e a certeza de que com isso esta festa perdure.

Festa marcante para a minha vida e que tento contagiar amigos e familiares para que a tradição não vá para os livros e registros como apenas fontes para pesquisadores e sim seja vivenciada a cada ano por muitas gerações!

*Alexsandro Leite é Servidor público Municipal, Educador e um profundo conhecedor da Cultura de Montes Claros.

------------------------------------------------------------------------------------------------
Alex, querido! Após ter sido professora - junto com você - da "Família Poló", no centro de convívio, hoje tenho a grata satisfação de ser professora de mais uma neta do Sr. Joaquim Poló, a Suziane, filha da nossa ex-aluna, Socorro. Esse mundo sempre dando voltas, não é mesmo?

Beijos,

Sheila Revert.
------------------------------------------------------------------------------------------------
Foto: (http://xumedeiros.blogspot.com) Joaquim Poló, chefe dos caboclinhos. Faleceu em 17 de julho de 2008, aos 62 anos de idade, vítima de câncer. Por mais de 20 anos representou Montes Claros com sua alegria e compromisso. Foi fazer festa no céu! A ele, nosso reconhecimento!


Nenhum comentário: