11/09/2011

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O CORETO DA PRAÇA
João Valle Mauricio

O tempo não para. É infinito

Depressa vai correndo

E os dias gotejando no passado

Gotejando, gotejando, gotejando . . .

Um a um, vão morrendo

E vão formando um mundão de recordação.


Tenho saudades do coreto da Praça

Não era bonito

Modesto e de muita singeleza

Mas nesta simplicidade estava toda sua beleza.

Na poeira do largo eu brincava

Avançava feliz contra o redemoinho

Avançava sorrindo levando uma peneira

E tentava apanhar o “Romãozinho”.

Nunca o apanhei

Será mesmo que ele existe?

Pode ser. Eu não sei . . .

Lá na torre o sacristão tocava o sino

Eu não gostava da sacristia

Tinha medo de lá entrar.

Era escura, misteriosa e fria

E o sacristão?

Era um defunto vivo?

Bem que parecia:

Sapato preto, roupa preta, gravata preta,

Camisa branca e cabeça branca

Amarelo, cor de terra, triste de fazer dó.

Um dia ele não veio tocar o sino.

- O que foi que aconteceu?

Foi que ele morreu

Será que foi para o céu?

Se foi, bem mereceu.

O coreto era cercado de magnólias

Tristes, raquíticas, sem nobreza

Sem flor e sem verdor

Mas ele tinha sua graça

Largado, sozinho, no meio da praça.

Quando a noite caía

Ele vivia nas retretas

E a “Euterpe”, em dobrados de harmonia

Dava movimento à praça, dava a todos, alegria.

Os namorados, nas noites de luar

Juntos, felizes, em serestas

Surgiam em grupos a cantar:

“Lua, vinha perto a madrugada

Quando em ânsias minha amada

Em meus braços desmaiou . . .”

No coreto viviam as andorinhas

Carinhosas, amorosas, escondidas nos beirais,

E ao cair da tarde voavam

Voavam em coreografias magistrais.

A praça era tudo para nós

Na poeira vermelhas ou lamaçal das chuvas

A meninada brincava:

Jogo de bola, jogo de finca

Jogo de pião

Da cabra cega

E o sacrifício de Judas na Aleluia.

O tempo levou o coreto

A majestosa palmeira

Também o tempo levou

Nas surdas pancadas do machado

O velho tronco tombou

A correnteza dos dias levou os meninos

Levou todos, levou nossa alegria

Hoje estão de cabeças brancas

Como branca era a cabeça do sacristão.

Os pássaros pretos, da palmeira

Não mais cantaram

Para outras praças, para outros coretos

De pequenas cidades

Bateram asas, também voaram.

Voaram para longe as andorinhas

Os namorados não mais cantam modinhas.

No turbilhão do tempo correndo

Correndo sem graça, imprudente e permanente

Já não se ouve mais

A suave melancolia

Do velho sino da matriz

Badalando: dom – dom – dom

Ave Maria!

Bela Doida sem juízo e sem roupa

Corria na enxurrada, chuveiro de Deus.

Era festa na Praça:

- Olá, Bela Doida – gritavam os meninos

E ela bonita, esbelta e nua corria . . .

- Ah! Ah! Ah! – Gargalhava

Alegria, alegria

Alegria de louca. Alegria verdadeira.

Onde foi Bela Doida?

O coreto

A palmeira e minha mocidade?

Coreto da minha praça

Que tanta saudade deixou

Seu lugar ficará, eternamente

Na memória desta gente

Que esta cidade criou

Receba minha homenagem

Em afirmação de amor

Pois quando vejo o jardim de hoje

Encontro sua imagem:

Em cada flor!





















Palavras vazias - João Valle Maurício

Palavras vazias

Num mundo vazio.

Palavras

Clamando justiça,

Rogando perdão,

Chorando sem fé.


Palavras

Pedindo amor,

Esperando

Orando

Compreensão.


Palavras

Voando confusas;

Alucinadas

Em multidão.


Palavras vazias

Num mundo sem formas,

Sem perfume

Sem beleza,

Sem calor...


Mundo que segue

Sempre girando,

Sempre perdido

Eternamente envolvido,

Em nebulosa de dor...


Palavras sem formas

Em todas as línguas

Em todas as bocas

Em todas as cores.

E os homens falando

Sempre falando.

E ninguém escutando.


O som das palavras

Não tem ressonância

É Babel de mensagens

Ganhando distância

Voando sem eco

Pelo mundo afora.


E os homens perdidos,

Sofridos,

Desesperados, angustiados,

Falando, sempre falando

E o mundo girando,

Sempre girando,

Sempre mais frio.


Palavras sem formas

Num mundo vazio!







































Doutor Coração (Tributo a João Valle Maurício) - Téo Azevedo

Foi no dia vinte e quatro

Mês de abril que ele nasceu

Foi no ano vinte e dois

Montes Claros aconteceu

Apelidado Mauricinho

Esse grande amigo meu.


No ano quarenta e seis

Foi a sua graduação

Formou-se na federal

Com muita dedicação

Nas terras de BH

Nosso doutor Coração.


No ano cinqüenta e oito

No meu verso improvisado

Na eleição da cidade

O vereador mais votado

E presidente da Câmara

Num trabalho muito honrado.


Fez muito por Montes Claros

Com a maior dedicação

Defendia a pobreza

Lutava feito um leão

E dentro de seus projetos

Água, luz e educação.


Até o Conservatório

Ajudou a implantar

E o Distrito Sanitário

Um trabalho exemplar

E o nosso Prontocor

Ele ajudou a fundar.


E a primeira jornada

De caráter cultural

Presidente da Aliança

Renovadora Nacional

Secretário de saúde

Do governo estadual.


E foi um dos fundadores

Presidente e Reitor

Da Fundação Norte-Mineira

De ensino superior

Direito e Medicina

Foi criação do doutor.


Administração e finanças

Incorporou a FAFIL

O Patrimônio da Unimontes

Em sua luta foi febril

Um guerreiro do Cerrado

Relíquia do meu Brasil.


Um fazendeiro letrado

E gênio da poesia

Meu parceiro musical

Um médico de garantia

Adorava uma seresta

Como um sol de um novo dia.


É autor de vários livros

Eu começo com “Grotão”

“Tapioca” foi mais um

De uma grande expressão

E “Pássaros na Tempestade”

Comoveu meu coração.


“A rua do vai quem quer”

E a “Janela do sobrado”

Também “O beco das vacas”

Um trabalho caprichado

Inédito, “Rua de baixo”

“Caraíbas”, tá encerrado.


Ao lembrar de Mauricinho

Caem as Lágrimas ao Luar

Canta Carlos e Beatriz

Pra o sonho não acabar

O poeta da seresta

É eterno no cantar.


Do nosso Lions tropeiro

Foi um sócio fundador

Também foi seu presidente

Um trabalho de valor

Sua marca registrada

Era ser trabalhador.


De várias academias

Foi um membro muito honrado

A Letras de Montes Claros

E a Letras do estado

Academia de Medicina

Tem o seu nome cravado.


A “Janela do Sobrado

Sua coluna de jornal

Onde fazia suas crônicas

De maneira sem igual

Contava contos e causos

De uma forma genial.


Dona Milene Coutinho

De Maurício a companheira

Uma esposa fiel

Ao seu lado a vida inteira

Também uma folclorista

Da terra norte-mineira.


Um grande pai de família

Deixou o nome na história

As suas filhas queridas

A Mânia e Vitória

Tem Nair e Liliane

É um quarteto de glória.


Desse vazio tão grande

Saudade vira canção

E nas chagas do Cerrado

Ser médico a profissão

De de São Francisco

Nosso doutor Coração.


Na raiz da poesia

A viola é meu abrigo

Posso ter adversário

Mas não tenho inimigo

E o que mais me machuca

É quando perco um amigo.


E quando isso acontece

É um desespero anormal

A gente entra em fossa

De maneira sem igual

E se é amigo da arte

O sofrimento é total.


Foi no dia vinte e três

Dois mil, numa terça-feira

Era uma manhã de março

Uma terra hospitaleira

Cidade de montes Claros

Capital norte-mineira.


Falo do doutor Maurício

Poeta e folclorista

Escritor e grande amigo

Seresteiro e cronista

Um mestre do coração

Um grande cardiologista.


Defendia a cultura

Do Brasil terra da gente

E tudo que ele fez

Provou ser muito competente

Foi um ser tão caprichoso

Que não sai da minha mente.


Ajudou minha família

E muita gente no sertão

Era um grande repentista

Fazendo improvisação

Meu cordel é um tributo

A esse grande cidadão.

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Agradeço imensamente ao Professor Sebastião Abiceu da Secretaria Municipal de Educação pelo empenho ao enviar-me o tão esperado poema "O coreto da praça".

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