O tempo não para. É infinito
Depressa vai correndo
E os dias gotejando no passado
Gotejando, gotejando, gotejando . . .
Um a um, vão morrendo
E vão formando um mundão de recordação.
Tenho saudades do coreto da Praça
Não era bonito
Modesto e de muita singeleza
Mas nesta simplicidade estava toda sua beleza.
Na poeira do largo eu brincava
Avançava feliz contra o redemoinho
Avançava sorrindo levando uma peneira
E tentava apanhar o “Romãozinho”.
Nunca o apanhei
Será mesmo que ele existe?
Pode ser. Eu não sei . . .
Lá na torre o sacristão tocava o sino
Eu não gostava da sacristia
Tinha medo de lá entrar.
Era escura, misteriosa e fria
E o sacristão?
Era um defunto vivo?
Bem que parecia:
Sapato preto, roupa preta, gravata preta,
Camisa branca e cabeça branca
Amarelo, cor de terra, triste de fazer dó.
Um dia ele não veio tocar o sino.
- O que foi que aconteceu?
Foi que ele morreu
Será que foi para o céu?
Se foi, bem mereceu.
O coreto era cercado de magnólias
Tristes, raquíticas, sem nobreza
Sem flor e sem verdor
Mas ele tinha sua graça
Largado, sozinho, no meio da praça.
Quando a noite caía
Ele vivia nas retretas
E a “Euterpe”, em dobrados de harmonia
Dava movimento à praça, dava a todos, alegria.
Os namorados, nas noites de luar
Juntos, felizes, em serestas
Surgiam em grupos a cantar:
“Lua, vinha perto a madrugada
Quando em ânsias minha amada
Em meus braços desmaiou . . .”
No coreto viviam as andorinhas
Carinhosas, amorosas, escondidas nos beirais,
E ao cair da tarde voavam
Voavam em coreografias magistrais.
A praça era tudo para nós
Na poeira vermelhas ou lamaçal das chuvas
A meninada brincava:
Jogo de bola, jogo de finca
Jogo de pião
Da cabra cega
E o sacrifício de Judas na Aleluia.
O tempo levou o coreto
A majestosa palmeira
Também o tempo levou
Nas surdas pancadas do machado
O velho tronco tombou
A correnteza dos dias levou os meninos
Levou todos, levou nossa alegria
Hoje estão de cabeças brancas
Como branca era a cabeça do sacristão.
Os pássaros pretos, da palmeira
Não mais cantaram
Para outras praças, para outros coretos
De pequenas cidades
Bateram asas, também voaram.
Voaram para longe as andorinhas
Os namorados não mais cantam modinhas.
No turbilhão do tempo correndo
Correndo sem graça, imprudente e permanente
Já não se ouve mais
A suave melancolia
Do velho sino da matriz
Badalando: dom – dom – dom
Ave Maria!
Bela Doida sem juízo e sem roupa
Corria na enxurrada, chuveiro de Deus.
Era festa na Praça:
- Olá, Bela Doida – gritavam os meninos
E ela bonita, esbelta e nua corria . . .
- Ah! Ah! Ah! – Gargalhava
Alegria, alegria
Alegria de louca. Alegria verdadeira.
Onde foi Bela Doida?
O coreto
A palmeira e minha mocidade?
Coreto da minha praça
Que tanta saudade deixou
Seu lugar ficará, eternamente
Na memória desta gente
Que esta cidade criou
Receba minha homenagem
Em afirmação de amor
Pois quando vejo o jardim de hoje
Encontro sua imagem:
Em cada flor!
Palavras vazias
Num mundo vazio.
Palavras
Clamando justiça,
Rogando perdão,
Chorando sem fé.
Palavras
Pedindo amor,
Esperando
Orando
Compreensão.
Palavras
Voando confusas;
Alucinadas
Em multidão.
Palavras vazias
Num mundo sem formas,
Sem perfume
Sem beleza,
Sem calor...
Mundo que segue
Sempre girando,
Sempre perdido
Eternamente envolvido,
Em nebulosa de dor...
Palavras sem formas
Em todas as línguas
Em todas as bocas
Em todas as cores.
E os homens falando
Sempre falando.
E ninguém escutando.
O som das palavras
Não tem ressonância
É Babel de mensagens
Ganhando distância
Voando sem eco
Pelo mundo afora.
E os homens perdidos,
Sofridos,
Desesperados, angustiados,
Falando, sempre falando
E o mundo girando,
Sempre girando,
Sempre mais frio.
Palavras sem formas
Num mundo vazio!
Doutor Coração (Tributo a João Valle Maurício) - Téo Azevedo
Foi no dia vinte e quatro
Mês de abril que ele nasceu
Foi no ano vinte e dois
Montes Claros aconteceu
Apelidado Mauricinho
Esse grande amigo meu.
No ano quarenta e seis
Foi a sua graduação
Formou-se na federal
Com muita dedicação
Nas terras de BH
Nosso doutor Coração.
No ano cinqüenta e oito
No meu verso improvisado
Na eleição da cidade
O vereador mais votado
E presidente da Câmara
Num trabalho muito honrado.
Fez muito por Montes Claros
Com a maior dedicação
Defendia a pobreza
Lutava feito um leão
E dentro de seus projetos
Água, luz e educação.
Até o Conservatório
Ajudou a implantar
E o Distrito Sanitário
Um trabalho exemplar
E o nosso Prontocor
Ele ajudou a fundar.
E a primeira jornada
De caráter cultural
Presidente da Aliança
Renovadora Nacional
Secretário de saúde
Do governo estadual.
E foi um dos fundadores
Presidente e Reitor
Da Fundação Norte-Mineira
De ensino superior
Direito e Medicina
Foi criação do doutor.
Administração e finanças
Incorporou a FAFIL
O Patrimônio da Unimontes
Em sua luta foi febril
Um guerreiro do Cerrado
Relíquia do meu Brasil.
Um fazendeiro letrado
E gênio da poesia
Meu parceiro musical
Um médico de garantia
Adorava uma seresta
Como um sol de um novo dia.
É autor de vários livros
Eu começo com “Grotão”
“Tapioca” foi mais um
De uma grande expressão
E “Pássaros na Tempestade”
Comoveu meu coração.
“A rua do vai quem quer”
E a “Janela do sobrado”
Também “O beco das vacas”
Um trabalho caprichado
Inédito, “Rua de baixo”
“Caraíbas”, tá encerrado.
Ao lembrar de Mauricinho
Caem as Lágrimas ao Luar
Canta Carlos e Beatriz
Pra o sonho não acabar
O poeta da seresta
É eterno no cantar.
Do nosso Lions tropeiro
Foi um sócio fundador
Também foi seu presidente
Um trabalho de valor
Sua marca registrada
Era ser trabalhador.
De várias academias
Foi um membro muito honrado
A Letras de Montes Claros
E a Letras do estado
Academia de Medicina
Tem o seu nome cravado.
A “Janela do Sobrado”
Sua coluna de jornal
Onde fazia suas crônicas
De maneira sem igual
Contava contos e causos
De uma forma genial.
Dona Milene Coutinho
De Maurício a companheira
Uma esposa fiel
Ao seu lado a vida inteira
Também uma folclorista
Da terra norte-mineira.
Um grande pai de família
Deixou o nome na história
As suas filhas queridas
A Mânia e Vitória
Tem Nair e Liliane
É um quarteto de glória.
Desse vazio tão grande
Saudade vira canção
E nas chagas do Cerrado
Ser médico a profissão
De de São Francisco
Nosso doutor Coração.
Na raiz da poesia
A viola é meu abrigo
Posso ter adversário
Mas não tenho inimigo
E o que mais me machuca
É quando perco um amigo.
E quando isso acontece
É um desespero anormal
A gente entra em fossa
De maneira sem igual
E se é amigo da arte
O sofrimento é total.
Foi no dia vinte e três
Dois mil, numa terça-feira
Era uma manhã de março
Uma terra hospitaleira
Cidade de montes Claros
Capital norte-mineira.
Falo do doutor Maurício
Poeta e folclorista
Escritor e grande amigo
Seresteiro e cronista
Um mestre do coração
Um grande cardiologista.
Defendia a cultura
Do Brasil terra da gente
E tudo que ele fez
Provou ser muito competente
Foi um ser tão caprichoso
Que não sai da minha mente.
Ajudou minha família
E muita gente no sertão
Era um grande repentista
Fazendo improvisação
Meu cordel é um tributo
A esse grande cidadão.
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Agradeço imensamente ao Professor Sebastião Abiceu da Secretaria Municipal de Educação pelo empenho ao enviar-me o tão esperado poema "O coreto da praça".
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